Da Redação
Intervenções inéditas em três pontos da cidade de São Paulo questionam a crueldade contra animais
Eduardo Srur, artista plástico conhecido por suas intervenções urbanas que buscam provocar a sociedade, inaugura no mês de maio “Vida Livre”, sua mais nova exposição na cidade de São Paulo. O projeto artístico conta com o apoio de Xexéu Tripoli, da Secretaria Municipal da Cultura, Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, parceria do Instituto Virada Sustentável e apoio da Urbia Ibirapuera. A exposição pode ser visitada até o dia 02 de junho, e conta com três instalações de grande escala espalhadas por pontos principais da capital: Parque Ibirapuera, Parque do Povo e Parque Trianon e, desta vez, questionam a crueldade contra os animais, tendo como viés principal a falta de liberdade que os seres humanos causam aos bichos em prol do entretenimento próprio.
As três obras trazem no nome exatamente aquilo que o artista questiona.
A primeira, intitulada “Zoo” e relacionada ao elemento terra, é interativa e está exposta em frente ao Parque Trianon, de segunda à sábado e, aos domingos, dentro do próprio parque. Com uma jaula de 3×3 metros e esculturas de macacos da espécie Bugio do lado de fora, o espaço conta, também, com caixas de som emitindo o grito do animal para ativar o sentido sonoro de quem passa por ela, além de artistas e atores atuando dentro das grades e convidando o público a entrar e sentir a sensação de ficar enjaulado. Essa obra também traz mais um ponto de atenção a quem for visitá-la: a espécie Bugio, dizimada pela febre amarela, está em perigo de extinção.
A segunda instalação, nomeada Voo dos Pássaros e atrelada ao elemento ar, é a mais densa. Construída com mais de 1000 gaiolas apreendidas pela polícia em operações contra o tráfico de animais silvestres e instalada no meio do Parque do Povo, a obra traz uma mensagem de esperança, com a imagem impactante de uma árvore monumental com as centenas de gaiolas abertas, clamando pela liberdade dos pássaros presos.
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A terceira obra, Aquário, traz o elemento água como mote, apresenta um aquário gigantesco com duas esculturas de crianças dentro da água e o urso polar do lado de fora. A obra também questiona o aprisionamento de animais em aquários para entretenimento humano. Instalada no principal ponto de passagem do Parque Ibirapuera, em frente ao lago principal, o aquário também traz restos de plásticos, sacolas, canudos e outros tipos de lixo retirados da praia pelo Instituto EcoFaxina, que realiza ações voluntárias na cidade de Santos. “Aquário” abrange outros temas caros ao artista: o aquecimento global causado pelos combustíveis fósseis e o uso excessivo de plástico no planeta que polui os oceanos e sufoca vida marinha.
Fazendo uma analogia vivencial da sociedade na pandemia, Srur compara a vida dos animais presos ao que experimentamos durante a pior fase do COVID-19.
“Em tempos em que fomos obrigados a viver isolados em nossas casas, sem contato com ninguém e sem a liberdade de ir e vir, por que sentenciamos os animais a um lockdown eterno, ao prendê-los em gaiolas, zoológicos e aquários, os tirando de seus habitats naturais, apenas para nosso benefício próprio? Se somos seres interdependentes, por que tratar os animais como inferiores, menos merecedores da liberdade que prezamos tanto? “. E, complementa: “Como artista, me vejo como um representante social da liberdade de pensamento, expressão e ação. É inaceitável que a sociedade contemporânea ainda aceite passivamente a cultura de aprisionar animais para entretenimento. Para isso existe a arte. Para questionar, gerar reflexões e provocar as mudanças culturais necessárias na evolução da sociedade. Vida Livre aos animais! ” Uma proposta para esta mudança de comportamento é a lei de 2019 do vereador Xexéu Tripoli, que pede a proibição de novos zoológicos na Cidade de São Paulo.
A exposição “Vida Livre” ainda reforça um estudo realizado pela WWF (Fundo Mundial para a Natureza), entre 1970 e 2016, que aponta que o planeta perdeu cerca de 70% dos animais selvagens em menos de 50 anos, sendo um dos principais fatores a ação humana, e chegando até 94% de devastação da fauna se concentrados apenas na América Latina e no Caribe. A conversão de florestas, savanas e campos para agricultura e o comércio desses animais foram as principais razões para a queda de mamíferos, pássaros, anfíbios, répteis e peixes, além da produção de carne bovina e a agricultura comercial em grande escala de óleo de palma e soja. “Vida Livre” é mais um grito do movimento contra os maus tratos animais, em uma nova tentativa de minimizar a crueldade e ajudar a salvar o planeta, conscientizando o ser humano de suas ações nocivas às demais espécies.
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Outras obras do artista já passaram por importantes cenários paulistanos e trouxeram questionamentos de hábitos que consideramos normais e que são nocivos a todas as espécies, incluindo a do ser humano. Apropriando-se de pontes e viadutos, rios poluídos e represas, parques públicos e terrenos baldios, frequentemente acontecem intervenções impossíveis de serem ignoradas. Em 2006, quem passasse em frente ao rio Pinheiros, conseguia ver caiaques tripulados por manequins de plástico, uma crítica à poluição dos rios. Em 2008, Srur trouxe esculturas em forma de garrafas pets nas margens do rio Tietê e vestiu os monumentos com coletes salva-vidas. Em 2014, “Trampolim”, uma de suas mais famosas intervenções instaladas em diversas pontes, gerou incômodo nas pessoas, que acionaram a polícia e o corpo de bombeiros. De forma sutil, com pitadas de humor e, outras vezes, de forma ácida e direta, Srur deseja que as pessoas parem, olhem e reflitam sobre a força da arte no cotidiano.
Serviço
Exposição “Vida Livre” por Eduardo Srur
Quando: Até 02 de junho de 2022.
Locais:
Zoo – Avenida Paulista e Parque Trianon – segunda a sábado em frente ao parque, 24h; aos domingos dentro do parque das 6h às 18h.
Aquário – Parque Ibirapuera, Alameda dos Anos Dourados – todos os dias das 5h às 23h.
Voo dos Pássaros – Parque do Povo – 6h às 22h
Entrada Gratuita
Site: https://www.eduardosrur.com.br/
Instagram: @eduardosrur