Da Redação
O conjunto de 35 obras, sendo oito especialmente desenvolvidas para a mostra, traz temas e reflexões da artista indígena Macuxi sobre a observação da natureza e da vida coletiva
O MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, de 24 de março a 11 de junho de 2023, a mostra Carmézia Emiliano: a árvore da vida, que ocupa a galeria localizada no 1° subsolo do museu. Com curadoria de Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP, a exposição reúne 35 pinturas que figuram e refletem sobre paisagens, objetos da cultura material e o cotidiano da comunidade da artista indígena Macuxi, localizada na Maloca do Japó, Normandia, Roraima.
Carmézia Emiliano é uma artista autodidata de origem Macuxi. Na década de 1990, mudou-se para Boa Vista, momento no qual também começou a pintar, motivada pelo impacto de sua primeira visita a uma exposição de arte. Ali ela notou que humanidade e natureza, indivíduo e coletivo, podiam assumir formas na profusão de detalhes espelhados, intrincados e interconectados das artes visuais. No início de sua carreira, sua produção artística encontrou espaço em exposições chamadas naïfs e/ou populares, hoje, no entanto, seu trabalho aponta para a revisão dessa leitura enquadrada e tem sido incluído em diferentes mostras de arte contemporânea.
A exposição Carmézia Emiliano: a árvore da vida apresenta 35 pinturas sobre tela, sendo oito delas desenvolvidas especialmente para a mostra, divididas em sete núcleos que abordam temas relacionados à subjetividade da artista e à vida em comunidade, refletindo manifestações culturais macuxis, como a dança do parixara, os jogos e brincadeiras relacionados aos períodos de festas – por exemplo, o de colheita da mandioca –, assim como a vida comunitária, manifesta nas pinturas que representam habitações e espaços em comum. Também se destacam os registros da transmissão de saberes, das redes de apoio entre mulheres e da relação de profundo respeito e cooperação com a natureza.
O título da mostra faz referência a um tema recorrente na obra da artista, o mito da Wazaká, a árvore da vida, que faz surgir de seu tronco cortado o Monte Roraima.
O autorretrato Eu (2022) de Carmézia Emiliano também evidencia como figuras indígenas são pouco vistas nesse gênero da pintura. Até o século 19, o gênero foi frequentemente comissionado ou estimulado pela academia aos artistas pertencentes à história oficial da arte. Os indígenas, apartados do Estado, mas em franca disputa por respeito e reconhecimento de seus territórios e modos de vida, lidaram com o fato de se verem representados por outros, em imagens às vezes românticas e frequentemente contraditórias e ambivalentes, como o quadro Moema (1866), de Victor Meirelles (1832-1903). Ao pintar o autorretrato, a artista se coloca duplamente no centro, do quadro e de sua comunidade.
Muitos trabalhos de Emiliano se dedicam ao registro poético de objetos da cultura material e dos saberes transmitidos por seu povo entre gerações, entretanto, o seu trabalho não se reduz a uma compreensão antropológica ou essencialista, ainda que, durante quase duas décadas, tenha sido nessa chave de interpretação que sua obra encontrou lugar no cenário da arte.
SERVIÇO
Carmézia Emiliano: a árvore da vida
Curadoria: Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP
1° subsolo (galeria)
Quando: 24.03 — 11.06.2023
Onde: MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista
01310-200 São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terça grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 60 (entrada); R$ 30 (meia-entrada)