Da Redação
Com entrada gratuita, público poderá conhecer em profundidade a obra de um dos grandes fotógrafos do país
A partir de 30 de abril (sábado), a sede de São Paulo do Instituto Moreira Salles apresenta a exposição Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito. Com entrada gratuita, a retrospectiva traça um panorama da obra do fotógrafo carioca, marcada, sobretudo, pelas imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negra do país. No dia da abertura (30/4), às 11h, haverá um debate presencial com Firmo e os curadores da exposição no cineteatro do IMS Paulista.
A curadoria da mostra é de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. A retrospectiva também conta com assistência de curadoria da conservadora-restauradora Alessandra Coutinho Campos e pesquisa biográfica e documental de Andrea Wanderley, integrantes da Coordenadoria de Fotografia do IMS.
A seleção ocupa dois andares do centro cultural e reúne cerca de 266 fotografias, produzidas desde a década de 1950, no início da carreira do artista, até 2021. A mostra traz imagens de diversas regiões do Brasil, com registros de ritos, festas populares e cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas. Grande parte das obras exibidas provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018 em regime de comodato.
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Nascido em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses — seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém –, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York.
Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.
A mostra apresenta sua obra fotográfica a partir de sete núcleos temáticos. No primeiro, o público encontra cerca de 20 imagens em cores de grande formato, produzidas pelo fotógrafo ao longo de toda sua carreira. Há fotos feitas em Salvador (BA), como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados, de 2002; em Cachoeira (BA), como o retrato da Mãe Filhinha (1904-2014), que fez parte da Irmandade da Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra (ES), onde o fotógrafo retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928-2020), integrante da Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre outras.
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
O segundo núcleo apresenta a biografia do artista, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando registrou temas do noticiário, em imagens em preto e branco. O conjunto inclui uma fotografia do jogador Garrincha, feita em 1957; imagens de figuras proeminentes da política nacional, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek; além de registros de ensaios de escolas de samba do Rio de Janeiro. Desse período inicial, a mostra também traz fotografias realizadas para a matéria “100 dias na Amazônia de ninguém“, publicada em 1964 no Jornal do Brasil, pela qual Firmo recebeu o Prêmio Esso de Reportagem. Para a matéria, que contou com textos e imagens de sua autoria, o fotógrafo percorreu cidades e povoações ribeirinhas do Amazonas e do Solimões, documentando as paisagens, disputas políticas da região e a população, que incluía alguns de seus familiares.
Nas próximas seções, a retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema.
Como destaque, a exposição apresenta ainda retratos de músicos produzidos por Firmo, principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustram inúmeras capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque. Nesse conjunto, está ainda a famosa série de fotografias de Pixinguinha, e também um ensaio com fotografias do artista Arthur Bispo do Rosário, realizado em 1985 para a revista IstoÉ.
A retrospectiva apresenta diversos registros produzidos durante celebrações tradicionais brasileiras, como a Festa de Bom Jesus da Lapa, a Festa de Iemanjá e o próprio Carnaval do Rio de Janeiro. Há também um núcleo com fotos feitas em outros países, como Cuba, Jamaica e Cabo Verde.
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Na mostra, o público poderá assistir ainda ao curta-metragem Pequena África (2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de fotografia. O filme trata da história da região que dá nome ao título, área da zona portuária do Rio que recebeu inúmeros africanos escravizados.
O segundo andar da exposição é dedicado à fotografia em preto e branco de Firmo, uma oportunidade única de compreensão dessa produção, ainda pouco conhecida e em grande parte inédita. Nessa parte, um dos destaques é a série de imagens feitas na praia de Piatã, em Salvador, entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000.
Em cartaz até setembro, a exposição contará com uma série de atividades paralelas, que serão divulgadas posteriormente no site do IMS. Ao longo do período expositivo, o público poderá conhecer em profundidade a obra de um dos grandes fotógrafos do país, que até hoje, aos 84 anos, mantém seu compromisso pelo fazer artístico, como afirma em suas próprias palavras: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais.”
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Serviço
Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito
Abertura: 30 de abril
Visitação: até 11 de setembro
Onde: IMS Paulista – Avenida Paulista, 2424 – São Paulo
*Entrada gratuita, mediante apresentação de comprovante físico ou digital de vacinação contra covid-19 e documento oficial com foto para todos com mais de 5 anos.
Debate com Walter Firmo, Janaina Damasceno Gomes e Sergio Burgi
30 de abril (sábado), às 11h
Cineteatro do IMS Paulista
Entrada gratuita. Lugares limitados.
Distribuição de senhas 1 hora antes do evento, com limite de 1 senha por pessoa
Horário de funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h.
*Os horários podem sofrer alterações devido à pandemia. Consulte o site.