Da Redação
Artista se apropria de clássico dispositivo expográfico de Lina Bo Bardi para criar uma experiência imersiva
O MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, até 31 de julho de 2022, a mostra Luiz Zerbini: a mesma história nunca é a mesma, que ocupa o espaço expositivo do 2º subsolo do museu. Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Guilherme Giufrida, curador assistente no MASP, a exposição traz um conjunto de cerca de 50 trabalhos, entre pinturas, monotipias, gravuras e desenhos, em sua grande maioria inéditos, distribuídos em uma expografia-obra projetada em diálogo com a arquitetura do espaço. Trata-se da primeira exposição individual de Zerbini, um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira, em um museu em São Paulo, sua cidade natal. Ressaltando o interesse do artista pelos aspectos da botânica, as obras retomam narrativas apagadas das histórias brasileiras com o intuito de reconstruí-las a partir de novas imagens e protagonistas.
Luiz Zerbini (São Paulo, 1959) mudou-se para o Rio de Janeiro no início da década de 1980 e começou também nesse período sua trajetória artística. Ao longo do tempo, sua pesquisa em uma variedade de técnicas, passando por experimentações em pintura, colagem, vídeo e instalação, tornou-se uma marca em sua obra. Esta exposição, mesmo que não retrospectiva, engloba trabalhos e questões prementes do artista, que, de certo modo, o acompanham desde o início de sua produção. A mostra busca criar novas paisagens para a história do Brasil por meio de uma experiência imersiva composta de pinturas, monotipias e objetos da natureza.
Sua mostra individual parte de uma pintura do artista realizada em 2014, denominada A primeira missa, comissionada para a coletiva Histórias mestiças, realizada no mesmo ano no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Nessa obra, “Zerbini questiona o imaginário produzido pela célebre pintura Primeira missa no Brasil (1860), de Victor Meirelles (1832-1903), reinventando a imagem e a própria narrativa dos primeiros dias do famigerado encontro entre invasores e indígenas no início do processo colonial brasileiro”, comenta o curador Guilherme Giufrida.
Como descreve Giufrida, “o artista assume o gesto de agenciar imagens que se solidificaram como ilustração de fatos que foram, na verdade, inventados por elas. Trata-se assim de reimaginar as histórias, atribuindo-lhes novas representações, fazendo emergir outras ideias e protagonistas”. A exposição, portanto, se vale desse procedimento para abordar momentos e embates da história do país. Exemplo disso são as quatro pinturas de grande dimensão, elaboradas especialmente para a mostra: Massacre de Haximu (2020), Paisagem inútil (2020), Rio das Mortes (2021) e Canudos não se rendeu (2021).
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Ao conjunto de pinturas se soma uma seleção de dezenas de monotipias da série Macunaíma (2017), concebidas para uma edição do romance Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (1928), de Mário de Andrade (1893-1945). Nelas, Zerbini traduz a narrativa do livro de Andrade — que conta a história de vida de um sujeito indígena e suas intensas transformações — a partir da apropriação da vegetação nativa do cenário do protagonista, evidente nos suportes em papel.
Além delas, a individual também integra duas obras instalativas — uma delas trazendo raízes de plantas do ateliê do artista —, além da própria expografia, uma apropriação de um clássico dispositivo — uma grande estrutura modular de madeira — desenhado por Lina Bo Bardi (1914-1992) para a mostra Cem obras-primas de Portinari (1970), de Candido Portinari (1903-1962), no MASP, com alterações no desenho e intervenções de pintura propostas por Zerbini.
Cada vez mais interessado, nos últimos anos, em questões de botânica e discussões (inclusive filosóficas) ao redor do universo vegetal, o artista passou a refletir o tema em sua produção desde a década de 2000, nela incluindo tanto um diálogo quanto uma preocupação com a causa e as demandas das populações indígenas, sobretudo no combate ao garimpo e outras formas de invasão de territórios desses povos na atualidade.
Luiz Zerbini: a mesma história nunca é a mesma integra o biênio de programação do MASP dedicado às Histórias brasileiras, em 2021-22, por ocasião do bicentenário da independência do Brasil, em 2022. Este ano, a programação inclui também mostras de Abdias Nascimento (1914-2011), Dalton Paula, Joseca Yanomami, Madalena dos Santos Reinbolt (1919-1977), Judith Lauand e Cinthia Marcelle, além de uma grande coletiva, Histórias brasileiras.
SERVIÇO
LUIZ ZERBINI: A MESMA HISTÓRIA NUNCA É A MESMA
Até 31.07.22
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Endereço: Avenida Paulista, 1578 — Bela Vista | SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas
Agendamento online obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 50 (entrada); R$ 25 (meia-entrada | terça grátis